sábado, 30 de março de 2013

The jockey

A não ser pela sua ex-mulher, alguns amigos, parentes e colegas de trabalho, ninguém prevê que você subitamente morra. Como foi o caso do jóquei de 45 anos, John Ferguson, no dia 17 de Abril de 1972.

Uma semana antes de sua última corrida, Ferguson comemorava sua aposentadoria das corridas com cavalos, para se dedicar ao boxe com cangurus. Toda a sua vida fora regrada, desde sua dieta até se acordar pela madrugada para forrar a cama que estava dormindo.

Sua mulher, a senhora Charlotte Newton, que sofria de uma rara condição denominada gordorexia, achava normal e até elegante, comer um frango inteiro.

Ferguson, nunca tinha traído a Sra. Newton, o máximo que tinha chegado perto de outra fêmea, foi quando fez o parto da égua de seu cavalo.

O sexo entre Ferguson e a Sra. Newton era rotineiro, ele deitava na cama e ela cavalgava em cima dele comendo um pacote de salgadinhos de queijo. Ela era do tipo segura de si, outras pessoas a caracterizavam como mandona, outros como uma imbecil.

Com 50 anos, bronzeada, um rosto de forma oblonga, cabelos grisalhos e curvas perigosas para qualquer suicida, a Sra. Newton era uma verdadeira oportunista. Casou-se com Ferguson, porque diziam que ele seria um grande campeão de corridas de cavalos. Entretanto, Ferguson nunca ganhou uma corrida sequer. Já terminou as provas em todas as posições possíveis, até na fetal choramingando, mas nunca em primeiro lugar.

Com eterno desapontamento, ela descontava todas suas frustrações de uma dona de casa, em Ferguson, que se escondia debaixo da cama e sofria calado.

“Você tem de dar uma lição naquela mulher, John”, ela come mais que seu pai, por Deus. Ela é tão gorda que comeria a internet”! Exclamou sua mãe. “Você é um fraco, verme e o pior jóquei que conheço. Se eu tivesse coragem arrancaria parte do meu cérebro para esquecer que você é meu filho”. Disse seu pai.

Depois dos incentivos, Ferguson ficou depressivo. Começou a ter sonhos esquisitos. Em um deles, ele era um detetive de dupla personalidade que perseguia a si mesmo.

Durante o dia, era um respeitado delegado de aparência rígida. Ao cair da noite, fantasiava-se de Pernalonga e corria gritando: ‘‘O que é que há, velhinho” em asilos. Em um outro era um amante judeu de Eva Braun.

Nos últimos dias antes da corrida, Ferguson tinha sumido. Ninguém sabia onde encontrá-lo. “Talvez esteja embaixo da cama”. – Alguns comentavam. Dias se passaram e ninguém sabia onde ele havia se metido.

Horas antes da corrida, já nos preparativos finais, a Sra. Newton com uma asa de galinha na mão, grita da platéia para o nada, “Ferguson, seu desgraçado, cadê você”.

Ao longe no horizonte, surge uma silhueta mal desenhada de um jóquei cavalgando, mas sem um cavalo. Tipo um “Air guitar” equino. Era Ferguson, agora com os cabelos assanhados e um rosto rosado, gritando slogans de companhias telefônicas. Visivelmente bêbado, acena para a platéia, que retribui mostrando-lhe a língua e atirando maçãs.

Nervoso e desorientado sobe em seu cavalo, desta vez de costas segurando o rabo do animal.

Quando o juiz dá o tiro anunciando a largada, Schopenhauer, seu cavalo, entra em disparada como nunca, ultrapassando, quase todos os outros cavalos, exceto por um, Hegel, seu grande inimigo, que sempre o vencia. Nos primeiros metros, Ferguson juntamente com Schopenhauer, permanecem em segundo lugar, por quase um pênis de cavalo de diferença, até que diminuem a diferença para o de um humano. Ferguson, eufórico com o progresso, começa a sentir palpitações aceleradas no coração e sentir-se mal. Na metade da prova, a uma velocidade incrível, Hegel e Schopenhauer parecem estar correndo ao mesmo tempo os mesmos metros sem diferença alguma.

Toda a agitação, a narração rápida do locutor e o grito escandaloso da torcida e da Sra. Newton, perdem toda a atenção e emoção para presenciar a queda de Ferguson do cavalo, que ecoa o barulho por todo o estádio, causando “OH’s” de surpresa e agonia . Ferguson tivera um ataque cardíaco, bem no meio da corrida e caíra morto. Mas isso não parou Schopenhauer que ultrapassou Hegel relinchando críticas e insultos, definindo o estilo de seu oponente como digno de loucos e atrasados mentais do hospício.

Por fim, Schopenhauer – O cavalo de Ferguson, cruza a linha de chegada como primeiro colocado e vence a corrida, para a perplexidade de todos os presentes no estádio. Sartre, o narrador, exclama que todo vencedor nasceu para ser derrubado, referindo-se a Hegel, e anuncia a controversa vitória de Ferguson e Schopenhauer.

A Sra. Newton ficou felicíssima, com a morte de seu marido, e todo o dinheiro do prêmio que iria passar a ter posse. O que a esposa de Ferguson, não esperava, era que ele tinha ido ao parque de diversões, passeado na roda gigante e depois ido ao cartório bêbado, deixando todos os seus bens para seu fiel cavalo. A Sra. Newton ficou extremamente surpresa com a notícia, mas como era de sua natureza oportunista, se casou com o cavalo, numa cerimônia com humanos e eqüinos presentes, champanhe e fenos por todos os lados. Aproveitando seu dinheiro e jeito tranqüilo. A Sra. Newton agora cavalgava nele por todos os campos abertos de grama verde, desta vez, cavalgando de uma forma diferente.


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