sábado, 30 de março de 2013

Cartas para escrever antes do suicídio. Ou depois. pt.3


Comecei a ver fantasmas. No início via apenas algumas coisas de formas orgânicas e não muito definidas. Com o passar do tempo, numa espécie de desenvolvimento da minha técnica, pude ver mais clara e nitidamente, que o fantasma possuía forma de uma pessoa inexpressiva, com muita dor, e segurava um prato com um pedaço de bolo de chocolate.

Depois de olhar mais de perto, descobri que era minha namorada.

Devo ter começado a ficar louco. Minha namorada nunca comeria apenas um pedaço de bolo. Muito menos um de chocolate sem cobertura e recheio.

Talvez  um com  400.000 calorias que logo se acumulariam em sua indústria de gordura falida e entregue aos farrapos, que até um tempo atrás ela, e até eu, veja bem, chamávamos de barriga.

Não posso sucumbir à loucura em minha existência. Não agora que estou tão perto do divórcio. Mas afinal, o que farei? Cravar uma bala bem no meio dos meus olhos? Estourar meus miolos moles e rosados? Não. Talvez Lynch tivesse uma idéia melhor sobre o meu fim do que teve sobre Twin Peaks.

Meus dias passaram de completa apatia para desenfreada loucura. Infelizmente não consigo me dar com esse tipo de realidade. "O que são essas coisas que os jovens estão fazendo hoje em dia? E porque tanta passividade dos mais velhos?" Viu? É por esse tipo de pensamento retrógrado que acho que devo parar de respirar. Talvez faço um favor a todos dessa humanidade quando me desculpo por minhas escolhas e ações. Minha vida sem perspectiva e falta de imaginação.

Agora devo me organizar para jogar-me na frente de um metrô com trilhos enferrujados e ninhos de ratos que fazem um chiado de qui...qui... E espero que de alguma forma, minha alma possa ir para outra dimensão onde terei uma segunda chance de me tornar o que sempre sonhei. Um adestrador de golfinhos no sea world.

Cordialmente,
Clóvis.

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