sábado, 30 de março de 2013

Cartas para escrever antes do suicídio. Ou depois.


Querida família e amigos,

Venho por meio desta, informar a todos vocês que estou morto, como podem ver. Não pensem que foi uma decisão impulsiva. Na verdade, venho planejando meu último ato há 14 anos, depois que todos nós encontramos a titia Dulce se masturbando com a ponta da mesa, enquanto encarava um pôster do Pavarotti.

Passei a encontrar muitos paradoxos na vida, mentiras e até mesmo pelos crescendo em minha orelha. Tentei achar respostas para minhas perguntas. A ciência não me respondeu muito menos a religião, mas sim Mark Twain quando disse “Vamos agradecer aos idiotas. Não fosse por eles não faríamos tanto sucesso.” Já que não fiz nenhum sucesso na vida, vocês sabem em qual classe me vejo agora.

Minha vida anda em uma crise progressiva com os objetos inanimados ao meu redor. Outro dia, não sei se vocês se recordam, minha geladeira estava com um problema de resfriamento. Eu pedi para a vovó me pegar um pouco de suco e ela passou quatro horas para retornar, porque tinha ficado congelada. Quando me dei conta que ela não tinha voltado fui até a cozinha e fiquei chocado. A porta da geladeira ficou aberta por quatro horas consecutivas. Deixo a conta de energia para todos vocês pagarem.

E minhas namoradas? Ah, minhas na-mo-ra-das. Na verdade vocês não conheceram nenhuma delas. Por isso talvez estejam tão surpresos, já que todas habitavam apenas o mundo virtual da internet.


Minha primeira decepção amorosa foi com F. Conversas maravilhosas e muito divertidas e até picantes em certas ocasiões recheavam nossos diálogos. Tudo se ruiu após exatos quarenta minutos quando F. se revelou através da web cam como Frederico e não Flávia.

Depois conheci Katy, uma linda garota, com ótimo senso de humor e bastante agilidade em se expressar através do corpo, como pude ver de antemão pela imagem de sua câmera. 


Alguns dias se passaram e eu estava apaixonado. Perdidamente apaixonado. Decidi pedir o telefone de Katy e liguei. Para mais um delicioso acaso do cosmos Katy era uma surda-muda. O que me aliviou bastante quando a xinguei de vagabunda mentirosa e de mamilos gigantes, pelo telefone. Ela respondeu através do computador com um, “Não escutei direito o que você falou, pode repetir por aqui?”

Não pensem que sou um insensível, ou preconceituoso com os deficientes, isso realmente eu não sou. Mas quando você revela que passou algum tempo com uma pequena gonorréia, espera algumas verdades de sua companheira.

A vida é totalmente sem sentido e objetivos, assim como ciências contábeis e seus respectivos contadores. Quero por um fim nesse beco escuro que fui colocado sem minha permissão onde no fim você não sabe o que diabos está acontecendo, que vocês chamam de existência.

Espero que vocês não se choquem quando me encontrarem enforcado na frente de nossa casa com a pichação no muro que fiz com o escrito. “Isso foi culpa de todos vocês”.
                      

    Com muito amor, de seu eterno parasita sem emprego, Jim.

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